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Apostas esportivas: o jogo do dinheiro e os riscos sociais

Atualizado: 19 de set. de 2024

A emoção da partida, a adrenalina da aposta, a promessa de um ganho rápido. As apostas esportivas conquistaram o Brasil, mas por trás desse jogo há um lado menos divertido que merece nossa atenção: o risco social.

A mente humana é complexa e muitas vezes irracional quando se trata de decisões envolvendo dinheiro, especialmente em situações de ganho e perda. O economista comportamental Dan Ariely, em suas pesquisas, demonstrou como as pessoas frequentemente tomam decisões que não são alinhadas com seus melhores interesses financeiros. Em seu livro "Previsivelmente Irracional", Ariely explica que a dor de perder é psicologicamente mais intensa do que o prazer de ganhar. Esse fenômeno, conhecido como "aversão à perda", pode levar as pessoas a fazerem apostas cada vez mais arriscadas na tentativa de recuperar o que perderam, criando um ciclo perigoso de comportamentos impulsivos.

Para se ter uma ideia da dimensão do mercado, estima-se que as apostas esportivas online movimentaram cerca de 1% do PIB brasileiro em 2023, um crescimento superior a 70% em comparação a 2020. Nos Estados Unidos, esse número foi de 0,4% do PIB em 2023. Pesquisas recentes, como as realizadas pela QualiBest, indicam um aumento significativo nos gastos com apostas online, o que tem comprometido os orçamentos das famílias, especialmente aquelas com rendas mais baixas.

As famílias de menor renda são particularmente vulneráveis devido à menor capacidade financeira para suportar perdas, mas o problema não se limita apenas a elas. A ausência de mecanismos de proteção adequados pode levar qualquer apostador ao endividamento e a dificuldades financeiras sérias.

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Em dezembro de 2023, o governo brasileiro aprovou uma nova lei que regulamenta o mercado de apostas esportivas online. Essa legislação impõe normas operacionais e de compliance mais rigorosas, como a implementação de políticas de integridade nas apostas e prevenção à manipulação de resultados, além de incluir avisos de desestímulo nas propagandas e campanhas de conscientização sobre o jogo responsável e a prevenção de transtornos relacionados ao jogo patológico.

Reino Unido, Suécia e Dinamarca são exemplos de países onde a indústria de apostas esportivas é mais madura e onde medidas significativas foram adotadas para proteger os consumidores. No Reino Unido, a Comissão de Jogos de Azar (Gambling Commission) impõe regulamentações rigorosas para garantir que as empresas operem de forma responsável. Suécia e a Dinamarca demonstram que é possível ter um mercado de apostas esportivas próspero e seguro ao mesmo tempo. A regulamentação rigorosa, os impostos elevados e o foco na responsabilidade social são alguns dos pilares desses modelos de sucesso. 

Ao investir em programas de prevenção ao vício e em campanhas de conscientização, esses países contribuem para a proteção da saúde mental da população e para a construção de uma sociedade mais justa. Essas iniciativas demonstram que é possível mitigar os riscos das apostas esportivas por meio de políticas públicas eficazes e da colaboração da indústria.

Diante dos riscos associados ao crescimento das apostas esportivas online no Brasil, é crucial que as empresas do setor adotem práticas de responsabilidade social. Isso inclui a implementação de mecanismos que ajudem a prevenir o abuso nas apostas, como limites de depósito, ferramentas de autoexclusão e campanhas de conscientização sobre os riscos do vício em jogos. As empresas também devem ser transparentes em suas práticas e colaborar com as autoridades para garantir a proteção dos consumidores.

O Brasil tem uma longa história de apostas, que faz parte da cultura popular. Embora o risco social das apostas esportivas não possa ser completamente eliminado, ele pode ser significativamente mitigado se todas as partes envolvidas – governo, empresas e sociedade – atuarem de maneira coordenada e consciente. O lucro deve vir acompanhado de um compromisso claro, inclusive financeiro, com o bem-estar dos consumidores, especialmente os mais vulneráveis, e com a transparência na prevenção de manipulação de resultados.



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