Cautela excessiva é mais arriscado que tentar e falhar?
- Juliano Davoli

- 10 de set. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de set. de 2024
Outro dia me deparei com uma charge do Tom Fishburne e seu marketoonist sobre os riscos nas decisões corporativas e suas consequências. Especialmente quando se trata de inovação, o dilema de quando e como agir pode significar o sucesso ou fracasso de uma organização.
Dois conceitos ajudam a entender a dificuldade na decisão: "Sinking the Boat" (afundar o barco) e "Missing the Boat" (perder o barco).
O que são "Sinking the Boat" e "Missing the Boat"?
Sinking the Boat refere-se ao risco de tomar uma decisão precipitada, investindo em uma tecnologia ou mercado que ainda não está consolidado. Nesse caso, a empresa pode "afundar", perdendo recursos e capital em uma iniciativa que não decola.
Missing the Boat, por outro lado, é o risco de hesitar demais e perder uma oportunidade que outros concorrentes já aproveitaram, ficando para trás no mercado.
Daniel Kahneman, um dos pioneiros da economia comportamental, no seu livro "Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar" ensina que perder dói mais do que ganhar dá prazer. Este fenômeno, conhecido como aversão à perda, pode fazer com que as pessoas evitem riscos até quando isso vai contra seus melhores interesses.
Isso ajuda a explicar porque a maioria dos executivos se preocupa mais em afundar o barco do que em perder o barco, levando muitas organizações, mesmo em tempos prósperos, a serem tão cautelosas e conservadoras.

Exemplos Clássicos
Um exemplo clássico de "Missing the Boat" é a Kodak. Nos anos 70, a empresa teve a oportunidade de se posicionar na vanguarda da revolução digital, mas hesitou. A Kodak apostou que o filme fotográfico ainda seria dominante por muito tempo, e, como resultado, perdeu o timing do mercado de câmeras digitais, que logo foi conquistado por concorrentes mais ágeis.
Mais recentemente, a aposta que a Meta fez no metaverso é um bom exemplo de "Sinking the Boat". Ao investir bilhões em uma tecnologia ainda não consolidada, a empresa colocou em jogo uma parte significativa de seus recursos e sofreu uma perda de valor de mercado bem expressiva. Conseguiu uma recuperação extraordinária ao não insistir no que estava afundando o barco ao mesmo tempo que buscou novos investimentos em inteligência artificial, por exemplo.
Falando em IA...
Quem vai se arriscar a perder o barco da inteligência artificial? As empresas estão correndo para adotar IA, mesmo sem saber exatamente qual será o impacto de longo prazo ou o rumo que o mercado tomará. Os primeiros indicativos apontam para uma mesma direção, que a IA é um caminho sem volta.
A arte de enxergar oportunidades
De acordo com Peter Dickson, há três razões principais para o fracasso de um empreendimento: uma análise de mercado falha (não ler a previsão do tempo), uma estratégia inadequada para o ambiente (escolha errada do barco) e uma execução deficiente da estratégia e/ou controle de custos (má navegação).
A história empresarial está cheia de exemplos que ilustram como o timing é crucial. Estar à frente ou atrás do mercado pode determinar o destino de uma organização. No contexto atual de avanços tecnológicos rápidos, como a IA, as empresas precisam afiar ainda mais suas capacidades de análise e tomada de decisão.
Dickson, Peter R., and Joseph J. Giglierano. “Missing the Boat and Sinking the Boat: A Conceptual Model of Entrepreneurial Risk.” Journal of Marketing, vol. 50, no. 3, 1986, pp. 58–70. JSTOR, https://doi.org/10.2307/1251585. Accessed 10 Sept. 2024.






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